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  • REPORTAGEM | AfroditeNaoTeContou

    De Afrodite às redes sociais: Como a pressão estética cria raízes e barreiras na vida das mulheres Padrão social que atravessa deusas gregas, influenciadoras digitais e anônimas se move com a história dos dilemas femininos O que tempo , espaço e beleza têm em comum? Quase sempre questões relativas para a vida humana, esses três elementos formam uma conexão única quando pensamos no que pode ser considerado “bonito”. Por lógica, no imaginário popular, todo mundo precisa de horas livres para estar em lugares que vendam beleza, ou para buscar práticas que os façam se sentir belos, de preferência no sentido físico. ​ Essa noção pode passar despercebida porque, em algum momento, virou nossa rotina. E nada cria raízes sem ter uma história para contar. Até mesmo nos dicionários, o conceito de “beleza” não é uma unanimidade - características, essências e propriedades estão entre os muitos critérios usados na definição do substantivo feminino. No entanto, desde a época de Afrodite , nascem e se estabelecem referências que contemplam apenas fragmentos de toda essa dimensão. ​ A própria deusa grega representou por si só um dos primeiros padrões de beleza do planeta, simbolizando ainda a fertilidade e sexualidade. Ao longo dos séculos, outros modelos de contemplação estética ganharam espaço e, assim, reuniram elementos que conversavam com suas respectivas sociedades e contextos históricos . Na Idade Moderna , por exemplo, peles mais pálidas e corpos vultosos eram traços ligados a mulheres de classes ricas que, justamente por seu poderio, figuravam como o arquétipo a ser seguido. Já a Era Industrial foi marcada por transformações sociais que também atingiram os ideais de beleza e, posteriormente, abriram brechas para a chegada de maquiagens e demais produtos estéticos aos mercados durante o século XX. ​ A tendência dos cosméticos seguiu firme até a década de 1990, período em que as supermodelos dominaram as capas de revista , e reproduziram um senso de beleza ditado pelas altas estaturas e pelo culto à magreza extrema. Naomi Campbell, Kate Moss, Cindy Crawford, Tyra Banks e Claudia Schiffer , alguns dos nomes de maior destaque em frente às câmeras, receberam, inclusive, o título de “ícones da moda”. Simulação da construção da beleza no Brasil em 100 anos (Vídeo: Cut/YouTube) Transformação dos ideais corporais femininos ao longo da história (Vídeo: BuzzFeed/YouTube) O mesmo apelo estético se desdobrou durante os anos 2000 - cores vibrantes e jeans eram detalhes frequentes em roupas estilizadas e rentes ao corpo, o qual ganhou um papel bem mais central na determinação do valor das mulheres no meio social. Diariamente, celebridades (igualmente vítimas) tinham seus visuais modificados em editores de imagem e personificavam manchetes que carregavam um propósito bem claro: o ideal de beleza é inatingível, mas a culpa ainda é sua se não conseguir alcançá-lo. ​ No Brasil, Sand y, Deborah Secco e Samara Felippo fizeram parte da estatística ao estamparem edições da revista Capricho ao lado de frases como “O que os meninos amam e odeiam no nosso visual”, “A feiticeira ensina como endurecer o bumbum, as pernas e a barriga” e “Boa de corpo”, respectivamente. Considerando a influência de outras produções midiáticas da época, como Atrevida e Boa Forma, os profissionais de educação física Brianna Silva, Cristiano Mezzaroba e Flávio Zoboli classificam a criação da editora Abril como uma espécie de “pedagogia para o padrão estético de beleza ”. Ou seja, em suas extintas publicações físicas, a Capricho sustentava um foco exacerbado no ensino de comportamentos que supostamente cuidariam do corpo feminino, mesmo que estes conteúdos reforçassem ideais irrealistas. ​ “A revista ganhava o lugar de ‘conselheira’ e ‘melhor amiga’ da mulher, era aquela que sempre tinha uma solução para os problemas, que sempre tinha uma palavra de estímulo. Assim, estando acessível a muitas mulheres, as práticas de embelezamento adquiriam um caráter de dever, o qual não era propriamente ‘imposto’, mas sim sugerido incessantem ente”, analisam, no artigo “A Influência da Revista Capricho na Construção de um Senso Estético entre as Jovens ”. ​ ​ Onde aprendemos que a beleza dói? No passado ou no presente, viver em desacordo com os “conselhos” e modelos predominantes na grande mídia se torna uma das facetas mais cruéis da juventude. Principalmente, porque essas questões não estão ligadas somente a corpos e rostos, mas a etnias, cores de pele e orientações sexuais. Nesse contexto, não se enquadrar no padrão de beleza significa não ser plenamente reconhecida como pessoa. ​ Essa dor individualizada se expande na experiência coletiva da pressão estética , movimento definido pela busca incessante por se encaixar nos ideais de beleza, ao mesmo tempo em que há um constrangimento social para tal procura. As maiores afetadas no sistema são mulheres não brancas , acima dos 40 anos, não magras e integrantes da comunidade LGBTQIA+ . ​ A psicóloga e pesquisadora feminista, Bianca Mayumi , explica que, para reconhecer o que entendemos como beleza, é preciso falar da hierarquização do padrão, que molda suas referências valorizando primordialmente traços europeus, como cabelos loiros, olhos claros e narizes pequenos. ​ “Com o passar do tempo, também vamos desenvolvendo novas tecnologias de gênero. Eu não estou falando só sobre redes sociais e internet, mas sobre comentários, brinquedos…a própria Barbie , a gente está aí, né? A explosão de volta com o novo filme. Então, são várias formas de tecnologia de gênero, várias formas de impactar e dar significado para o que é ser mulher e ser homem no meio da nossa socialização”, analisa. ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ Apesar do nivelamento feminino socialmente construído, a psicóloga cita “A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações”, de Valeska Zanello , ao destacar que a coerção estética ultrapassa os critérios que colocam certas mulheres na frente e outras, atrás da prateleira. ​ “A grande pegadinha é que todo mundo sai impactado por isso [padrão de beleza], porque até as mulheres com maior nível de privilégio hoje, um dia envelhecem . Então, até elas que são colocadas na frente dessa prateleira, uma hora vão cair. Ela é muito mutável, a gente não sai ganhando. A gente, de novo, é um objeto, né? Não tem como a gente sair ganhando nisso”, esclarece. ​ Segundo o levantamento “Beleza, Saúde e Bem-estar” (2022), da Opinion Box , 54% das brasileiras afirmam que sua aparência física está relacionada ou muito relacionada com sua felicidade, enquanto 15% também consideram ter baixa autoestima. Quando o assunto é o padrão de beleza atual, 27% das mulheres do país se vêem mais distantes dele. O mesmo índice cai para 18% entre os homens. ​ Como enfatiza Mayumi, a proporção que a pressão estética pode assumir na mente feminina tem raízes culturais. “Fomos ensinadas desde crianças a sermos escolhidas por alguém, sermos objetos de desejo, de prazer, de agrado. E, para isso, um dos pontos centrais é a beleza”, descreve. ​ Além do reflexo nos laços afetivos e amorosos, por associação, o padrão consegue força para impactar as visões de carreira, sucesso e bem-estar das mulheres. “Uma coisa está atrelada a outra. Você só vai conseguir seu objetivo quando você tiver alcançado tantos outros pré-requisitos. E aí, inclui a beleza”. ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ A exposição aos mecanismos e divulgações da pressão estética também pode causar impactos psicológicos. “A nossa autoestima é fluída, realmente flexível e impactada pelo mundo. Há questões, como uma distorção de imagem tão grande, que podem levar a uma depressão, ansiedade e tantos outros transtornos que, enfim, têm seus desencadeamentos”, expõe Mayumi. ​ Para ela, as mulheres são encorajadas a escolher uma forma extrema de reagir a esses contextos, seja pelo medo de expressar vulnerabilidade, ou pela exigência social de se mostrarem empoderadas e fortes. Uma resposta saudável às imposições irreais seria a criação de uma rede feminina de convívio e apoio. ​ “A gente entra num processo de validade, de esconder, de não poder trocar, falar das nossas inseguranças ou contar os nossos segredos de como se cuidar. E a verdade é que acho que a nossa união é o que pode fazer uma grande mudança nesse espaço, porque, nela, a gente pode falar ‘Puts, eu não estou sozinha ’”, afirma. ​ ​ Como encorpamos os padrões A imposição de padrões alimenta o crescimento do mercado de cosméticos e da busca por procedimentos estéticos – invasivos ou não. E, ainda que existam estereótipos de beleza para homens e mulheres,o alvo é, historicamente, o público feminino. Na lógica de mercado, a beleza também é vendida como sinônimo de sucesso e felicidade , no entanto, essa beleza depende de sacrifícios, tanto financeiros, quanto psicológicos. Segundo pesquisa da International Society of Aesthetic Plastic Surgery , divulgada em dezembro de 2020, o Brasil se tornou, em 2019 e pelo segundo ano consecutivo, o país que mais realizou cirurgias plásticas no mundo. Mas como a cultura da beleza auxilia no aumento da busca por intervenções plásticas não só em terras tupiniquins, mas ao redor de todo o globo? As cirurgias plásticas vêm ganhando notoriedade desde o século passado. O que inicialmente objetivava a reconstrução de características físicas e fisiológicas como forma de contribuir para melhor qualidade de vida do indivíduo, hoje passa a ter uma preocupação puramente estética muito maior. Devido à finalidade primária da cirurgia plástica reconstrutiva , a sociedade e os próprios cirurgiões não reconheciam essa prática cirurgia para fins estéticos . Mas, com a crescente preocupação com a aparência física, ligada ao discurso de autoestima, a partir da segunda metade do século XX a visão começou a mudar, possibilitando maior aceitação da cirurgia plástica estética. As publicidades e o potencial de alcance das mídias sociais - combinados com as já conhecidas pressões estéticas - influenciam diretamente no aumento da demanda de intervenções cirúrgicas, especialmente focadas no público feminino. Os ideais de beleza são, assim, cada vez mais difundidos e propagados pelas mais diversas plataformas. A mídia também tem um papel central nesse sentido: age de forma a incentivar a busca por plásticas, contribuindo para manutenção da insatisfação corporal como fonte geradora de consumo. De acordo com levantamento da Opinion Box (2022), 81% dos brasileiros já realizaram algum tipo de procedimento estético, sendo que 31% dessas intervenções aconteceram quando essas pessoas tinham entre 18 e 24 anos . Inegavelmente, os usuários são, todos os dias, bombardeados com centenas de milhares de conteúdos e propagandas, que vão desde rotinas de skincare até vlogs com experiências e dicas sobre cirurgias plásticas estéticas. Todo esse cenário resulta na supervalorização da aparência física - terreno fértil para a expansão das intervenções plásticas. Atualmente, há uma crescente naturalização da busca por tais intervenções, já que, na maioria das vezes, o corpo da mulher não se encaixa naturalmente nos padrões evocados em sociedade. Dentre as cirurgias mais procuradas estão: Lipoaspiração (que vai ao encontro do desejo de menor porcentagem de gordura, citando aqui o culto à magreza); Aumento das mamas (como justificativa da busca por seios grandes e firmes); Blefaroplastia (que retira o excesso de pele das pálpebras com a intenção de rejuvenescer o rosto e explicita cultura do louvor à juventude); Rinoplastia (fazendo referência à valorização de traços finos). Ademais, como um procedimento que até o ano de 2019 era pouco procurado, o aumento dos glúteos aparece agora entre os procedimentos mais realizados - realidade que pode demonstrar a influência de novas preocupações estéticas . Mas, afinal, por que a busca expressiva pelas mudanças corporais? A beleza é um assunto universal, embora seja um conceito subjetivo. O corpo é entendido como um item de exibição, o qual deve ser moldado, manipulado, trabalhado, construído e produzido. A partir da instituição do que é considerado belo é que o próprio corpo entra e sai da moda. Entre os motivos mais comuns pelos quais os indivíduos recorrem à cirurgia estética estão a baixa autoestima , insatisfação, sensibilidade afetiva, anseio pela melhora da imagem física, peso corporal, influência da mídia e condições financeiras. Em suma, a busca pelo corpo dito “perfeito” está, muitas vezes, diretamente relacionada a subjetividades, tanto aquelas pertencentes ao próprio ser, quanto aquelas advindas do convívio social. Nesse sentido, a apologia ao corpo esteticamente belo e proporcionalmente magro é uma das mais severas fontes de frustração e angústia para as mulheres. Na atualidade, as singularidades dos corpos estão sendo tão desvalorizadas que se cria uma dualidade : ao mesmo tempo que há a promoção do corpo como item glorificado, ele também é facilmente desprezado quando não está nas conformidades aceitas pelo senso comum. É dentro dessa realidade que nasce a promessa de resgate da autoestima, a partir do encorajamento para a realização de procedimentos estéticos, muitas vezes sem considerar os riscos que uma cirurgia acarreta ou as particularidades de cada indivíduo. Fatores que são marginalizados dentro da lógica da glamourização das cirurgias plásticas, mas que são considerações primárias a se fazer quando se pensa em realizar uma intervenção esbarram na consciência de possíveis complicações, no estudo das qualificações do médico escolhido para o procedimento, no tempo de recuperação, mas, principalmente, nas motivações que levaram a decidir pela realização da cirurgia. ​ Em contraposição a essa cultura, ascende o que se conhece por “body positive”. A ideia por trás do movimento social é justamente fazer frente aos padrões estéticos que oprimem as mulheres, focando na aceitação de todos os corpos, independentemente de tamanho, forma, tom de pele, gênero e habilidades físicas. Embrace é um documentário lançado em 2016, narra a trajetória da ativista australiana Taryn Brumfitt, que lidera uma cruzada para acabar com o constrangimento que as mulheres são levadas a sentir sobre seus corpos e propõe a criação de uma nova forma de percepção corporal. ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ Embrace convida o público a refletir sobre as imposições de beleza corporal (Vídeo: Cut/YouTube) ​ Da beleza para a moda O que vem em sua mente quando ouve a palavra “moda”? Segundo o dicionário, esse termo refere-se a 1. conjunto de opiniões, gostos, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos 2. uso de novos tecidos, cores, matérias-primas etc. sugeridos para a indumentária humana por costureiros e figurinistas de renome. Dentro do universo de Afrodite, esse conceito se une aos padrões de beleza para consolidar o ideal de aparência perfeita. Engana-se quem pensa que a moda é apenas um produto mercadológico. Ela tende a refletir os comportamentos de uma sociedade. Mas hoje, ela vai além disso, sendo, acima de tudo, uma indústria preocupada com a produção e venda de grandes quantidades de produtos têxteis. Para isso, antes de vender roupas, ela precisa vender desejos . Desfiles, campanhas e mídias sociais são utilizadas para isso. Assim como para os padrões estéticos, os produtos dessa indústria são vendidos e desejados pois são atrelados à felicidade e sucesso. ​ É justamente a partir dessa produção de desejo que se cria uma relação de dependência de consumo com o público. Desta forma, a moda convence o público a comprar novas peças, ainda que muitas vezes sem necessidade: para nos tornarmos algo que não somos e dificilmente poderemos ser. ​ Da mesma forma que concepções de beleza são cíclicas e influenciadas pelas sociedades nas quais os indivíduos se inserem, a moda também passa por fases. Seja com clássicos espartilhos para afinar a cintura ou com as calças jeans de cintura baixa para glamourizar a magreza, as peças procuram atender expectativas muitas vezes irreais. E é justamente sob esse aspecto que a indústria da moda se atrela à da beleza. ​ Quando se fala de padrão de beleza, pautas como tamanho e peso não devem ser as únicas abordadas. Outras minorias também devem ser representadas, como as mulheres trans , negras e PCDS . Discutir a questão da representatividade no meio da beleza e da moda é tão necessário quanto dar voz a essas pessoas. Um exemplo de produção que vai ao encontro dessa ideia é o reality show Born to Fashion . Lançado em 2020, provoca o diálogo entre moda e identidade, chamando atenção para a luta das mulheres em busca de um lugar no mercado da moda. Para a criadora de conteúdo digital Beatrice Rocha , a moda influencia muito no que a sociedade entende por padrão de beleza. Por meio de sua produção de conteúdo, Beatrice traz sua rotina, tratando de pautas como inclusão e beleza do corpo PCD, sendo ainda um grande exemplo de representatividade. ​ “Na moda bonita, aceitável e tendência existe muito mascarado a ideia de diversidade, a ideia de diferentes corpos. Mas tudo que a gente tem é mais do mesmo, e a gente vê isso nos mínimos detalhes“. Dentro dessa realidade, é como se as pessoas fora do “padrão” não tivessem o direito de ter o próprio estilo, de serem representadas ou de se sentirem bem com a própria imagem. Para a indústria convencional, são as pessoas que devem se adaptar às roupas, e não o contrário. ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ Carolina dos Santos , influencer que é referência na produção de conteúdos sobre moda e beleza acredita que a representatividade é essencial para que as mulheres entendam que podem ser e ocupar o espaço que quiserem. Dentro de seu público, mulheres negras e/ou com mais de quarenta anos são diariamente incentivadas e inspiradas a acreditarem em si mesmas. ​ “Então, eu como uma mulher gorda, eu sei os meus desafios para poder falar sobre a beleza de uma forma que as pessoas não me enxerguem somente como uma pessoa gorda, mas sim uma mulher que tem uma beleza e como qualquer outra. Fala-se que a beleza negra não se vende, mas eu acho que é a que mais dá retorno em todos os aspectos, porque é uma beleza única, é uma beleza que tem as suas vantagens, falo por mim sendo uma mulher de quarenta e cinco anos que não aparento ter essa idade e que eu me cuido da melhor forma possível.” Esses relatos trazem a luz a importância da escuta e do se ver representada de uma forma real. Em uma sociedade midiatizada na qual filtros e intervenções cirúrgicas atuam como mecanismos para naturalizar e solidificar os coercitivos padrões de beleza, ser autoral e ter consciência da beleza que mora em cada diversidade e singularidade é essencial. Uma alternativa para se conectar mais com essa proposta é consumir conteúdos e seguir personalidades que realmente se comprometam em produzir de acordo com a realidade, incentivando as mulheres a glorificarem seus corpos naturais e os utilizarem de forma e buscar e encontrar felicidade em sua forma mais genuína. ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ A equipe do “Afrodite não te contou” buscou, por meio dessa reportagem, trazer para você, leitor, um pouco da complexidade e multiplicidade do mundo da beleza e suas interseccionalidades. A partir de pesquisas e conversas com personalidades múltiplas que são influenciadas ou têm influência dentro do universo da beleza, esperamos que as mulheres possam se identificar e compreender que sim, devemos nos orgulhar genuinamente de habitar nossa própria pele! Confira os intertítulos

  • INICIAL | AfroditeNaoTeContou

    EQUIPE Essas são as personalidades por trás desse projeto: amigas, estudantes de jornalismo e entusiastas do mundo da beleza. Isabella Sousa Estudante de jornalismo, produtora de conteúdo e repórter do "Afrodite Não Te Contou". Espera que as pessoas parem de identificar beleza apenas no próximo e aprendam, cada vez mais, a se reconhecerem plausíveis de admiração. Lara Campeão Estudante de jornalismo, produtora de conteúdo e repórter do "Afrodite Não Te Contou". Leiga no universo da beleza, mas entusiasta em entender o porquê das coisas. Lívia Panassolo Estudante de jornalismo, produtora de conteúdo e repórter do "Afrodite Não Te Contou". Espera que esse projeto abra espaço para incentivar o amor próprio e a identificação. Nathalia Tetzner Estudante de jornalismo, produtora de conteúdo e repórter do "Afrodite Não Te Contou". Quer entender o que está por trás do país que originou a figura excêntrica do Dr. Rey. Thuani Barbosa Estudante de jornalismo, editora de conteúdo e repórter do "Afrodite Não te Contou". Espera que esse seja um espaço de conhecimento e inclusão, onde todos possam se sentir belos! Vitória Vulcano Estudante de jornalismo, editora de conteúdo e repórter do "Afrodite Não Te Contou". Espera que o projeto te faça enxergar a beleza de todas as coisas com os mesmos olhos curiosos e sensíveis de uma criança que assistia TV Globinho.

  • CIRURGIAS PLÁSTICAS | AfroditeNaoTeContou

    Como encorpamos os padrões A imposição de padrões alimenta o crescimento do mercado de cosméticos e da busca por procedimentos estéticos – invasivos ou não. E, ainda que existam estereótipos de beleza para homens e mulheres,o alvo é, historicamente, o público feminino. Na lógica de mercado, a beleza também é vendida como sinônimo de sucesso e felicidade, no entanto, essa beleza depende de sacrifícios, tanto financeiros, quanto psicológicos. Segundo pesquisa da International Society of Aesthetic Plastic Surgery , divulgada em dezembro de 2020, o Brasil se tornou, em 2019 e pelo segundo ano consecutivo, o país que mais realizou cirurgias plásticas no mundo. Mas como a cultura da beleza auxilia no aumento da busca por intervenções plásticas não só em terras tupiniquins, mas ao redor de todo o globo? As cirurgias plásticas vêm ganhando notoriedade desde o século passado. O que inicialmente objetivava a reconstrução de características físicas e fisiológicas como forma de contribuir para melhor qualidade de vida do indivíduo, hoje passa a ter uma preocupação puramente estética muito maior. Devido à finalidade primária da cirurgia plástica reconstrutiva, a sociedade e os próprios cirurgiões não reconheciam essa prática cirurgia para fins estéticos. Mas, com a crescente preocupação com a aparência física, ligada ao discurso de autoestima, a partir da segunda metade do século XX a visão começou a mudar, possibilitando maior aceitação da cirurgia plástica estética. As publicidades e o potencial de alcance das mídias sociais - combinados com as já conhecidas pressões estéticas - influenciam diretamente no aumento da demanda de intervenções cirúrgicas, especialmente focadas no público feminino. Os ideais de beleza são, assim, cada vez mais difundidos e propagados pelas mais diversas plataformas. A mídia também tem um papel central nesse sentido: age de forma a incentivar a busca por plásticas, contribuindo para manutenção da insatisfação corporal como fonte geradora de consumo. De acordo com levantamento da Opinion Box (2022), 81% dos brasileiros já realizaram algum tipo de procedimento estético, sendo que 31% dessas intervenções aconteceram quando essas pessoas tinham entre 18 e 24 anos . Inegavelmente, os usuários são, todos os dias, bombardeados com centenas de milhares de conteúdos e propagandas, que vão desde rotinas de skincare até vlogs com experiências e dicas sobre cirurgias plásticas estéticas. Todo esse cenário resulta na supervalorização da aparência física - terreno fértil para a expansão das intervenções plásticas. Atualmente, há uma crescente naturalização da busca por tais intervenções, já que, na maioria das vezes, o corpo da mulher não se encaixa naturalmente nos padrões evocados em sociedade. Dentre as cirurgias mais procuradas estão: Lipoaspiração (que vai ao encontro do desejo de menor porcentagem de gordura, citando aqui o culto à magreza); Aumento das mamas (como justificativa da busca por seios grandes e firmes); Blefaroplastia (que retira o excesso de pele das pálpebras com a intenção de rejuvenescer o rosto e explicita cultura do louvor à juventude); Rinoplastia (fazendo referência à valorização de traços finos). Ademais, como um procedimento que até o ano de 2019 era pouco procurado, o aumento dos glúteos aparece agora entre os procedimentos mais realizados - realidade que pode demonstrar a influência de novas preocupações estéticas . Mas, afinal, por que a busca expressiva pelas mudanças corporais? A beleza é um assunto universal, embora seja um conceito subjetivo. O corpo é entendido como um item de exibição, o qual deve ser moldado, manipulado, trabalhado, construído e produzido. A partir da instituição do que é considerado belo é que o próprio corpo entra e sai da moda. Entre os motivos mais comuns pelos quais os indivíduos recorrem à cirurgia estética estão a baixa autoestima , insatisfação, sensibilidade afetiva, anseio pela melhora da imagem física, peso corporal, influência da mídia e condições financeiras. ​ ​ Em suma, a busca pelo corpo dito “perfeito” está, muitas vezes, diretamente relacionada a subjetividades, tanto aquelas pertencentes ao próprio ser, quanto aquelas advindas do convívio social. Nesse sentido, a apologia ao corpo esteticamente belo e proporcionalmente magro é uma das mais severas fontes de frustração e angústia para as mulheres. Na atualidade, as singularidades dos corpos estão sendo tão desvalorizadas que se cria uma dualidade: ao mesmo tempo que há a promoção do corpo como item glorificado, ele também é facilmente desprezado quando não está nas conformidades aceitas pelo senso comum. É dentro dessa realidade que nasce a promessa de resgate da autoestima, a partir do encorajamento para a realização de procedimentos estéticos, muitas vezes sem considerar os riscos que uma cirurgia acarreta ou as particularidades de cada indivíduo. Fatores que são marginalizados dentro da lógica da glamourização das cirurgias plásticas, mas que são considerações primárias a se fazer quando se pensa em realizar uma intervenção esbarram na consciência de possíveis complicações, no estudo das qualificações do médico escolhido para o procedimento, no tempo de recuperação, mas, principalmente, nas motivações que levaram a decidir pela realização da cirurgia. ​ Em contraposição a essa cultura, ascende o que se conhece por “body positive ”. A ideia por trás do movimento social é justamente fazer frente aos padrões estéticos que oprimem as mulheres, focando na aceitação de todos os corpos, independentemente de tamanho, forma, tom de pele, gênero e habilidades físicas. Embrace é um documentário lançado em 2016, narra a trajetória da ativista australiana Taryn Brumfitt, que lidera uma cruzada para acabar com o constrangimento que as mulheres são levadas a sentir sobre seus corpos e propõe a criação de uma nova forma de percepção corporal. Pesquisa realizada pela Opinion Box em 2022 ​ Embrace convida o público a refletir sobre as imposições de beleza corporal (Vídeo: Cut/YouTube) Estudo Dove 2021 Continuar Reportagem

  • MODA | AfroditeNaoTeContou

    Da beleza para a moda O que vem em sua mente quando ouve a palavra “moda”? Segundo o dicionário, esse termo refere-se a 1. conjunto de opiniões, gostos, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos 2. uso de novos tecidos, cores, matérias-primas etc. sugeridos para a indumentária humana por costureiros e figurinistas de renome. Dentro do universo de Afrodite, esse conceito se une aos padrões de beleza para consolidar o ideal de aparência perfeita. Engana-se quem pensa que a moda é apenas um produto mercadológico. Ela tende a refletir os comportamentos de uma sociedade. Mas hoje, ela vai além disso, sendo, acima de tudo, uma indústria preocupada com a produção e venda de grandes quantidades de produtos têxteis. Para isso, antes de vender roupas, ela precisa vender desejos . Desfiles, campanhas e mídias sociais são utilizadas para isso. Assim como para os padrões estéticos, os produtos dessa indústria são vendidos e desejados pois são atrelados à felicidade e sucesso. ​ É justamente a partir dessa produção de desejo que se cria uma relação de dependência de consumo com o público. Desta forma, a moda convence o público a comprar novas peças, ainda que muitas vezes sem necessidade: para nos tornarmos algo que não somos e dificilmente poderemos ser. ​ Da mesma forma que concepções de beleza são cíclicas e influenciadas pelas sociedades nas quais os indivíduos se inserem, a moda também passa por fases. Seja com clássicos espartilhos para afinar a cintura ou com as calças jeans de cintura baixa para glamourizar a magreza, as peças procuram atender expectativas muitas vezes irreais. E é justamente sob esse aspecto que a indústria da moda se atrela à da beleza. ​ Quando se fala de padrão de beleza, pautas como tamanho e peso não devem ser as únicas abordadas. Outras minorias também devem ser representadas, como as mulheres trans , negras e PCDS . Discutir a questão da representatividade no meio da beleza e da moda é tão necessário quanto dar voz a essas pessoas. Um exemplo de produção que vai ao encontro dessa ideia é o reality show Born to Fashion . Lançado em 2020, provoca o diálogo entre moda e identidade, chamando atenção para a luta das mulheres em busca de um lugar no mercado da moda. Para a criadora de conteúdo digital Beatrice Rocha , a moda influencia muito no que a sociedade entende por padrão de beleza. Por meio de sua produção de conteúdo, Beatrice traz sua rotina, tratando de pautas como inclusão e beleza do corpo PCD, sendo ainda um grande exemplo de representatividade. ​ “Na moda bonita, aceitável e tendência existe muito mascarado a ideia de diversidade, a ideia de diferentes corpos. Mas tudo que a gente tem é mais do mesmo, e a gente vê isso nos mínimos detalhes.” Dentro dessa realidade, é como se as pessoas fora do “padrão” não tivessem o direito de ter o próprio estilo, de serem representadas ou de se sentirem bem com a própria imagem. Para a indústria convencional, são as pessoas que devem se adaptar às roupas, e não o contrário. ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ ​ Carolina dos Santos , influencer que é referência na produção de conteúdos sobre moda e beleza acredita que a representatividade é essencial para que as mulheres entendam que podem ser e ocupar o espaço que quiserem. Dentro de seu público, mulheres negras e/ou com mais de quarenta anos são diariamente incentivadas e inspiradas a acreditarem em si mesmas. ​ “Então, eu como uma mulher gorda, eu sei os meus desafios para poder falar sobre a beleza de uma forma que as pessoas não me enxerguem somente como uma pessoa gorda, mas sim uma mulher que tem uma beleza e como qualquer outra. Fala-se que a beleza negra não se vende, mas eu acho que é a que mais dá retorno em todos os aspectos, porque é uma beleza única, é uma beleza que tem as suas vantagens, falo por mim sendo uma mulher de quarenta e cinco anos que não aparento ter essa idade e que eu me cuido da melhor forma possível.” Esses relatos trazem a luz a importância da escuta e do se ver representada de uma forma real. Em uma sociedade midiatizada na qual filtros e intervenções cirúrgicas atuam como mecanismos para naturalizar e solidificar os coercitivos padrões de beleza, ser autoral e ter consciência da beleza que mora em cada diversidade e singularidade é essencial. Uma alternativa para se conectar mais com essa proposta é consumir conteúdos e seguir personalidades que realmente se comprometam em produzir de acordo com a realidade, incentivando as mulheres a glorificarem seus corpos naturais e os utilizarem de forma e buscar e encontrar felicidade em sua forma mais genuína. Uma produção autoral da equipe "Afrodite não te contou", o As Vozes da Beleza nas Redes Sociais é um mini podcast que conta com um copilado de relatos e experiências compartilhadas por mulheres que tratam do mundo da beleza e suas interseccionalidades. Continuar Reportagem

  • CARTAS AO LEITOR | AfroditeNaoTeContou

    Cartas ao leitor Quando o assunto é beleza, tal conceito se apresenta de forma individual, em especial quando inserida no universo feminino. Cada mulher foi apresentada, desde sua infância e com o início do processo de socialização, a uma noção referencial daquilo que é considerado belo e do que fazer para alcançar esse padrão. Por essas particularidades, a redação do “Afrodite não te contou” conversou com algumas leitoras para saber um pouco mais sobre suas visões e experiências sobre o assunto. “Como uma menina negra nunca tive referências sobre como cuidar do meu cabelo cacheado, por muitos anos usei os produtos errados e cheguei a alisar por uns anos. Além disso, sempre foi muito difícil encontrar bases no tom certo, já que a maioria me deixava laranja ou pálida. Minha principal referência de belo era a Barbie, branca, loira e magra.” “Em partes, em casa sempre fui muito bem tratada pela minha família, o que eu acho que me deu maior suporte e referência. Mas na escola já sofri bullying por não ser como as outras meninas, eu era muito moleca e um pouco gordinha, então, os meninos tiravam muito sarro da minha aparência. Os estereótipos da menina "feminina" sempre me incomodaram, tem coisas que não me agradam no universo feminino e muitas vezes me sinto menos mulher pelo estigma que colocam sobre.” ​ “Tive uma infância rodeada de figuras femininas que sempre foram magras ou tiveram corpos considerados belos sem muito esforço (Mãe, tias, primas, coleguinhas...) e que todas tinham o lema de "Ser bonita dói", "Você só é bonita se fizer X coisa", "Perca isso aqui de quilos e vai ser mais bonita" ou em forma comparativa, "Seu cabelo é tão bonito, igual o de fulana, você só precisa ser magrinha igual a ela" ou "Você é bonita de rosto mas as roupas...". Meus referenciais daquilo que era "bonito" eram os meus maiores gatilhos, porque eles moravam comigo. Para ser bela, eu precisava ficar sem comer ou fazer dietas restritivas, usar roupas de números menores para ver se percebia que precisava perder peso para caber ali, amarrar cadarços na cintura para que ela afinasse pois "mulher tem cintura fina", usar sutiã por horas - Mesmo que apertado... - para que meus seios não ficassem murchos, não comer em público, usar maquiagem e saber me comportar de forma atrativa para rapazes mesmo que estivesse no quinto ano… Definitivamente não foi saudável.” “Minhas referências eram as princesas e as barbies, mas eu tinha uma variedade legal de Barbies. Várias cores de pele, cabelos, bonecas de outros países, e eu achava todas bonitas. Mulan, Pocahontas, Jasmine, Barbies e Susis negras (eu tinha umas 5 bonecas com pele escura): todas eram bonitas, então as referências eram múltiplas. A minha mãe também sempre foi uma referência, ela é lindona e não é magrinha como a Barbie, então também não cresci achando que beleza era sinônimo de magreza.” Não é possível falar sobre beleza durante o século XXI sem mencionar os famosos “padrões estéticos”. O que a sociedade vislumbra como belo e como as mulheres são condicionadas a esses padrões? Muitas vezes, a indústria da beleza acaba por ditar uma cultura de corpos inalcançável, e essa realidade se apresenta ainda mais intimidadora dentro do universo feminino, de modo que o valor social da mulher more no cumprimento ou não desses padrões. “A noção de beleza na minha infância se apresentou de forma meio agridoce... Ao mesmo tempo que as atitudes de autocuidado, dos dias em que eu sentava para fazer maquiagem com a minha mãe ou escolher anéis com a minha tia eram um momento de comunhão, no qual a beleza me aproximava das mulheres da minha família, ela também repelia. Esse segundo caso surgia quando eu recebia críticas à mesa do almoço de domingo sobre não ter depilado a perna ou comentários sobre dietas e progressivas para o cabelo.” “A cultura machista influenciada pela pornografia faz com que homens pressionem as mulheres a um ideal perfeito que não existe. Depilação em dia, maquiagem, cabelo arrumado, sem marcas como estrias e espinhas. É só notar que uma mulher tem em casa pelo menos 20 produtos de beleza e higiene, enquanto a maioria dos homens não chegam a 10.” “Várias vezes, quando o BBL das Kardashians estava na moda, eu simplesmente não conseguia conceber a ideia que meu quadril nunca iria ficar igual o delas, por ter hip-dips (igual várias mulheres) ou que minha bunda nunca iria ficar daquela forma naturalmente. Ou a ideia que eu tinha pelos! Quem em sã consciência, na era da depilação a laser e dos braços lisinhos, ainda tinha pelos? Esse era meu raciocínio.” “Temos mulheres diversas no Brasil, mas ainda hoje é muito difícil encontrar corpos gordos em seus diferentes tamanhos como símbolo de marca nacional e propaganda. Somado a isso, mas difícil ainda é encontrar peles e belezas diversas quando falamos do mundo de skincare e cuidados faciais. Em particular eu tenho diastema e sei que muitas outras pessoas tem, mas a naturalização das padronizações dos dentes com aparelhos, até mesmo em casos que não fossem necessários senão esteticamente, fez com que eu crescesse sem nenhuma referência e que até hoje eu sinta poucas vezes que esse tipo de beleza é incluída no marketing das marcas.” “As atrizes da globo com narizes perfeitos, dentes brancos e seios grandes, isso é inalcançável, a profissão dessas mulheres é ficar bonita. E eu me sentia bem medíocre perto delas quando era adolescente, 12-18 anos. Só que aí eu cansei de me sentir menos bonita, e não lembro qual foi o gatilho disso, mas um dia eu acordei e pensei: o que eu acho bonito no meu corpo? E a resposta foi: tudo, então por que eu estava me sentindo feia? Por causa dessa comparação de padrão de beleza! Mas e eu? Eu achava que o padrão era bonito? Não! Então não tinha cabimento que eu me comparasse a um “padrão” que eu não admirava e deixasse de apreciar a beleza que eu achava que era beleza.” Um dos segmentos do mundo da beleza que mais ganhou espaço nos últimos anos é do skin care. Em especial com a ascensão do TikTok, o compartilhamento das rotinas de autocuidado estão cada vez mais presentes na vida dos usuários. Qual a ordem correta para o uso de cada produto, quais produtos usar e até aquela dica de receita caseira que promete milagres são pauta desse tipo de produção. Mas como o público feminino recebe esse conteúdo? Ele auxilia na promoção do autocuidado ou é mais uma das milhares de maneiras de incentivar o consumo e condicionar as mulheres a novos padrões de beleza? As leitoras do “Afrodite não te contou” também compartilharam suas visões sobre a cultura do skin care e a era “clean girl”. “Desenvolve inseguranças. Se você não tiver toda aquela parafernalha de pedra jade e produtos que custam mais de 200 reais seu skin care não será legítimo. E não é bem assim. É que eu não sou nada consumista, então eu acho essa trend de skin care uma grande bobagem, e fico com pena dessas meninas que estão acumulando dezenas de embalagens de plástico no banheiro e gastando centenas de reais com uma coisa que poderia ser bem mais simples. Eu faço skin care: lavo o rosto com o sabonete de rosto duas vezes por dia, uso hidratantes para o rosto com fator solar (se está muito sol, eu pulo direto pro protetor, que também é hidratante e específico para rosto), e um lip balm.” “Nos últimos dois anos vi muito da estética clean girl ou that girls. Embora tenha muito material, de um modo ou outro, elas tentam transparecer um pouco mais naturais, com peles com marcas e o skincare ajudando. Acho que deu pra dar uma leveza naquele aspecto todo de maquiagem e de como necessita de 3hrs para estar arrumada, mas trouxe muita insegurança vindo de ser "bonita" naturalmente, e que pra ser daquele jeito basta querer.” “Acredito que possa envolver inseguranças também, mas acho que as rotinas de skincare talvez estejam mais ligadas a um recurso de aproveitamento da era de incentivo a independência feminina que vivemos…Tipo: faça isso e cuide de si mesma porque você se basta. Ou, invista seu dinheiro em si mesma para sua própria apreciação, saca?” Continuar Reportagem

  • AFRODITES IN LOCO | AfroditeNaoTeContou

    Deixa Cachear & Titta Crespos e Cacheados Curiosa da beleza por natureza, a equipe do “Afrodite não te contou” foi in loco conhecer alguns dos salões de beleza da cidade de Bauru, SP. Promover a beleza enquanto ato de amor próprio e aceitação também é cultuar seus corpos e suas individualidades. Nessa seção, você encontra um pouco de trabalhos, experiências e visões singulares sobre o universo da beleza, abraçando a diversidade e representatividade! Afrodite te conta sobre: Titta Cabeleireira no Salão da Casa Autoral, ela é especializada em cabelos crespos e cacheados. O que a motivou a iniciar sua jornada dentro dos salões de beleza foi uma experiência pessoal: “Trancei para o meu aniversário de 30 anos e fui procurar por profissionais que cuidassem do meu cabelo de maneira natural . E eu não encontrei. Eu encontrei pessoas que me ofereceram mais química. Então, eram pessoas que não sabiam manusear o meu cabelo, na verdade nunca souberam. Foi a partir daí que eu tive essa percepção, mas eu também não tinha o letramento racial . Então, essa parte me influenciou bastante, porque eu sabia que eu era preta.” “E aí eu resolvi fazer um curso de cabeleireiro sem saber o que eu ia encontrar e sem saber como eu ia me sentir. Primeiro contato foi um contato um pouco chocante, de eu não lavar a cabeça, não estava acostumada com essa parte de servir.” “Comecei a cortar cabelo e junto surgiu o projeto Cabelo Crespo e Cabelo Bom. É um projeto que eu vou voluntariamente em escolas de ensino público falar sobre o cabelo crespo, sobre estética preta e aí eu me vi obrigada a estudar a estética, porque meu trabalho aqui não é só o que vocês veem agora, ele é todo pensado na experiência concreta da pessoa. O meu espelho é vertical não porque eu acho bonito, mas é porque a pessoa que senta aqui, ela vai ver a quantidade de cabelo que tá caindo no chão.” “A relação que eu tenho com o meu cabelo, sabe? Foi sim uma relação muito confirmada. É muito legal a gente ver locais que trabalhem com isso especificamente. É de ver o salão e o seu trabalho, para além da sua estreia ou só trazer até meio ato político, sabe? De fazer a diferença para algumas pessoas que não pensavam que estavam nisso. Pra mim é. Pra mim é completamente isso. Eu tentei ser uma cabeleireira regular, mas eu sou naturalmente militante. O projeto, ele me traz uma bagagem assim, muito, muito diferente.” “Então, sei lá, tempos atrás eu fui fazer uma palestra na USP. Eu nunca imaginei que a gente ia começar falando sobre cabelo e acabar falando sobre racismo , porque não tem como falar, principalmente quando a gente fala pra nós, pretos, retintos, crespos. Tem gente que vem do salão que não sabe o que é negra, não sabe como é uma pessoa preta.” “E tem em mim também uma coisa muito latente. É que as pessoas crespas não se identificam como crespas. Elas se identificam como pessoas cachadas e isso faz total diferença na maneira como elas vão cuidar do cabelo e como elas vão se enxergar do nosso cenário.” “Então assim, como os nossos corpos não existem, a partir do momento que ele passa a existir, que a pessoa fala, já que você está aqui, vamos deixar você aqui existindo e tal, a pessoa tenta te encaixar num padrão que, pra gente, é um padrão inalcançável, entendeu? Uma pessoa encaixada, é mais fácil, ela vai botar uma escovinha aqui, vai sair linda, maravilhosa ali, pele alva, arrasou. Pra gente, não. Se a gente nascer de novo, a gente vai alcançar esse padrão .” “Eu falo bastante de cabelo cacheado mas meu foco mesmo é sempre o cabelo crespo, porque o cabelo crespo ainda tá no limbo, as pessoas estão falando alto do cabelo natural, né? Para as cacheadas e para as onduladas, entendeu? Agora para nós crespas, a gente nem existe, nosso cabelo não é aceito. Quanto maior nosso cabelo, piores as coisas que a gente ouve na rua.” “Eu sempre procuro empoderar outras mulheres: vamos assumir o cabelo. Você não quer assumir o cabelo também? Tá tudo legal, mas tem que entender o porquê que você ainda lisa o cabelo, se é porque você quer, ou se é porque o seu namorado quer, se é porque a sua família acha. Então, eu tô sempre me buscando incansavelmente essas respostas.” B98AABD8-CA25-4EB5-8A62-D7AE06B68F89 Afrodite te conta sobre: Deixa Cachear Para a proprietária do salão: Um bate papo com mulheres que promovem a beleza no salão Deixa Cachear. Sua visão acerca da beleza dos cabelos cacheados e seu papel para a promoção da autoestima também são pauta por aqui. “Eu trabalhei em salão desde os meus 15 anos. Então, não foi meu primeiro emprego, mas desde lá já fui me apaixonando pela beleza. Mas eu era manicure. Aí depois de 8 anos eu virei cabeleireira, meu pai era cabeleireiro também. Então, sempre foi uma paixão o salão de beleza.” “Quando eu fui fazer curso de cabelo, já fiz o curso especializado em cabelo cacheado. E aí eu fui amando esse universo, né? O cabelo natural, o sair dos padrões de cabelo liso, que foi imposto há muito tempo atrás.” “Hoje esse mercado cresceu muito, tanto o mercado quanto as indústrias de cosméticos cresceram muito. Então eu vejo que é um lugar de empoderamento sim, com certeza, de aceitação, de resgatar as origens, resgatar a feminilidade e encontrar a sua beleza de novo, porque às vezes acaba ficando esquecida, assim, acaba cuidando dos filhos, da família e acaba esquecendo dela.” “Eu entendo também que a gente vem aqui buscando, né? É sair daqui transformada. Meu trabalho faz sentido quando ela olha no espelho, ela se acha bonita, ela gosta do que ela está vendo, ela se reencontra, né? Eu tenho esse propósito.” Para Letícia, auxiliar do salão: “Então a gente vai ajudando os clientes no dia a dia a cuidar do cabelo. O que me incentivou a trabalhar com beleza foi meu cabelo. Eu sempre gostei muito. Assim, quando eu comecei a aprender a cuidar do meu cabelo, eu gostei dessa parte. Então eu pensei, por que não ajudar outras pessoas a cuidar também? É gratificante ver.” “O salão também é um espaço de empoderamento feminino. Principalmente porque a gente sabe que o cabelo mexe muito com a autoestima da mulher, né? Então o cabelo é fundamental. Então, às vezes, ela chega aqui meio triste e a hora que ela olha no espelho no final, que acabou o cabelo dela, nossa, é outro rosto que ela fica. As pessoas já abrem o sorriso ali na hora” Para Laís, cliente do salão: “Como beleza, eu acho que beleza hoje está muito ligada à saúde, né? A autoestima, querendo ou não, tudo isso influencia. Então eu acho que a beleza pra gente hoje não tem como fugir, né?” “Acho que é uma forma de cuidado , é um carinho, né? E esse pouquinho, em seguida, também com as meninas e tudo, acaba sendo algo que, tipo, anima as pessoas. Muito demais! Mas foi gostoso, a hora passa que a gente não vê aqui. O salão ser especial para cacheadas representa que a gente está sendo vista, né? Porque, ativamente, era tudo muito visto, você não tinha muita opção.” Voltar para página inicial

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