

Deixa Cachear & Titta Crespos e Cacheados
Curiosa da beleza por natureza, a equipe do “Afrodite não te contou” foi in loco conhecer alguns dos salões de beleza da cidade de Bauru, SP. Promover a beleza enquanto ato de amor próprio e aceitação também é cultuar seus corpos e suas individualidades. Nessa seção, você encontra um pouco de trabalhos, experiências e visões singulares sobre o universo da beleza, abraçando a diversidade e representatividade!





Afrodite te conta sobre: Titta
Cabeleireira no Salão da Casa Autoral, ela é especializada em cabelos crespos e cacheados. O que a motivou a iniciar sua jornada dentro dos salões de beleza foi uma experiência pessoal:
“Trancei para o meu aniversário de 30 anos e fui procurar por profissionais que cuidassem do meu cabelo de maneira natural. E eu não encontrei. Eu encontrei pessoas que me ofereceram mais química. Então, eram pessoas que não sabiam manusear o meu cabelo, na verdade nunca souberam. Foi a partir daí que eu tive essa percepção, mas eu também não tinha o letramento racial. Então, essa parte me influenciou bastante, porque eu sabia que eu era preta.”
“E aí eu resolvi fazer um curso de cabeleireiro sem saber o que eu ia encontrar e sem saber como eu ia me sentir. Primeiro contato foi um contato um pouco chocante, de eu não lavar a cabeça, não estava acostumada com essa parte de servir.”
“Comecei a cortar cabelo e junto surgiu o projeto Cabelo Crespo e Cabelo Bom. É um projeto que eu vou voluntariamente em escolas de ensino público falar sobre o cabelo crespo, sobre estética preta e aí eu me vi obrigada a estudar a estética, porque meu trabalho aqui não é só o que vocês veem agora, ele é todo pensado na experiência concreta da pessoa. O meu espelho é vertical não porque eu acho bonito, mas é porque a pessoa que senta aqui, ela vai ver a quantidade de cabelo que tá caindo no chão.”
“A relação que eu tenho com o meu cabelo, sabe? Foi sim uma relação muito confirmada. É muito legal a gente ver locais que trabalhem com isso especificamente. É de ver o salão e o seu trabalho, para além da sua estreia ou só trazer até meio ato político, sabe? De fazer a diferença para algumas pessoas que não pensavam que estavam nisso. Pra mim é. Pra mim é completamente isso. Eu tentei ser uma cabeleireira regular, mas eu sou naturalmente militante. O projeto, ele me traz uma bagagem assim, muito, muito diferente.”
“Então, sei lá, tempos atrás eu fui fazer uma palestra na USP. Eu nunca imaginei que a gente ia começar falando sobre cabelo e acabar falando sobre racismo, porque não tem como falar, principalmente quando a gente fala pra nós, pretos, retintos, crespos. Tem gente que vem do salão que não sabe o que é negra, não sabe como é uma pessoa preta.”
“E tem em mim também uma coisa muito latente. É que as pessoas crespas não se identificam como crespas. Elas se identificam como pessoas cachadas e isso faz total diferença na maneira como elas vão cuidar do cabelo e como elas vão se enxergar do nosso cenário.”
“Então assim, como os nossos corpos não existem, a partir do momento que ele passa a existir, que a pessoa fala, já que você está aqui, vamos deixar você aqui existindo e tal, a pessoa tenta te encaixar num padrão que, pra gente, é um padrão inalcançável, entendeu? Uma pessoa encaixada, é mais fácil, ela vai botar uma escovinha aqui, vai sair linda, maravilhosa ali, pele alva, arrasou. Pra gente, não. Se a gente nascer de novo, a gente vai alcançar esse padrão.”
“Eu falo bastante de cabelo cacheado mas meu foco mesmo é sempre o cabelo crespo, porque o cabelo crespo ainda tá no limbo, as pessoas estão falando alto do cabelo natural, né? Para as cacheadas e para as onduladas, entendeu? Agora para nós crespas, a gente nem existe, nosso cabelo não é aceito. Quanto maior nosso cabelo, piores as coisas que a gente ouve na rua.”
“Eu sempre procuro empoderar outras mulheres: vamos assumir o cabelo. Você não quer assumir o cabelo também? Tá tudo legal, mas tem que entender o porquê que você ainda lisa o cabelo, se é porque você quer, ou se é porque o seu namorado quer, se é porque a sua família acha. Então, eu tô sempre me buscando incansavelmente essas respostas.”




Afrodite te conta sobre: Deixa Cachear
Para a proprietária do salão:
Um bate papo com mulheres que promovem a beleza no salão Deixa Cachear. Sua visão acerca da beleza dos cabelos cacheados e seu papel para a promoção da autoestima também são pauta por aqui.
“Eu trabalhei em salão desde os meus 15 anos. Então, não foi meu primeiro emprego, mas desde lá já fui me apaixonando pela beleza. Mas eu era manicure. Aí depois de 8 anos eu virei cabeleireira, meu pai era cabeleireiro também. Então, sempre foi uma paixão o salão de beleza.”
“Quando eu fui fazer curso de cabelo, já fiz o curso especializado em cabelo cacheado. E aí eu fui amando esse universo, né? O cabelo natural, o sair dos padrões de cabelo liso, que foi imposto há muito tempo atrás.”
“Hoje esse mercado cresceu muito, tanto o mercado quanto as indústrias de cosméticos cresceram muito. Então eu vejo que é um lugar de empoderamento sim, com certeza, de aceitação, de resgatar as origens, resgatar a feminilidade e encontrar a sua beleza de novo, porque às vezes acaba ficando esquecida, assim, acaba cuidando dos filhos, da família e acaba esquecendo dela.”
“Eu entendo também que a gente vem aqui buscando, né? É sair daqui transformada. Meu trabalho faz sentido quando ela olha no espelho, ela se acha bonita, ela gosta do que ela está vendo, ela se reencontra, né? Eu tenho esse propósito.”
Para Letícia, auxiliar do salão:
“Então a gente vai ajudando os clientes no dia a dia a cuidar do cabelo. O que me incentivou a trabalhar com beleza foi meu cabelo. Eu sempre gostei muito. Assim, quando eu comecei a aprender a cuidar do meu cabelo, eu gostei dessa parte. Então eu pensei, por que não ajudar outras pessoas a cuidar também? É gratificante ver.”
“O salão também é um espaço de empoderamento feminino. Principalmente porque a gente sabe que o cabelo mexe muito com a autoestima da mulher, né? Então o cabelo é fundamental. Então, às vezes, ela chega aqui meio triste e a hora que ela olha no espelho no final, que acabou o cabelo dela, nossa, é outro rosto que ela fica. As pessoas já abrem o sorriso ali na hora”
Para Laís, cliente do salão:
“Como beleza, eu acho que beleza hoje está muito ligada à saúde, né? A autoestima, querendo ou não, tudo isso influencia. Então eu acho que a beleza pra gente hoje não tem como fugir, né?”
“Acho que é uma forma de cuidado, é um carinho, né? E esse pouquinho, em seguida, também com as meninas e tudo, acaba sendo algo que, tipo, anima as pessoas. Muito demais! Mas foi gostoso, a hora passa que a gente não vê aqui. O salão ser especial para cacheadas representa que a gente está sendo vista, né? Porque, ativamente, era tudo muito visto, você não tinha muita opção.”